Por Alan Fernandes

No dia 13 de agosto, popularizado como #LulaDay [Dia do Lula] nas redes sociais, o perfil oficial do Twitter do Partido dos Trabalhadores (PT) de São Paulo postou uma montagem que mostra Lula próximo de personalidades como Juliette, Luísa Sonza, Anitta, Pablo Vittar, entre outras. Todas estão vestidas de vermelho, cor que remete ao PT e à esquerda e, atrás, uma bandeira do partido com o fundo de arco-íris, simbolizando as pautas LGBTQIA+.

O grupo de extrema-direita Nova Resistência (NR), de inspiração duginista, ridicularizou a imagem através de seu canal no Telegram, com associação discriminatória.

Screenshot – 16/08/2022

O post discriminatório faz alusão à recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que homens que fazem sexo com outros homens reduzam sua atividade sexual para evitar a propagação da Monkeypox. O órgão, no entanto, possui as devidas precauções de não associar o estigma à comunidade LGBTQIA+.

O diretor da OMS afirma que dentre os cuidados inclui-se, “reduzir o número de parceiros sexuais, reconsiderarem o sexo com novos parceiros e trocar detalhes de contato com novos parceiros para permitir o acompanhamento, se necessário”. Isso implica não em uma abstinência, mas em um controle onde a maioria dos casos é percebida no público de homens gays. O post da Nova Resistência, no entanto, em seu tom irônico, não teve esse cuidado.

O grupo é conhecido no Brasil por defender a Quarta Teoria Política (QTP), junção de premissas do fascismo clássico com o nacional-bolchevismo. Se popularizaram como alternativa “patriota” e “conservadora”, tensionando com o que chamam de “esquerda identitária” e “direita hipócrita”.

Em 2020, o movimento fez coro contra os protestos antiviolência policial nos EUA, que sucederam o assassinato de George Floyd. Em 2021, em um artigo assinado por Sâa François Farafín Sandouno, defendem logo no título que o Black Lives Matter é “Uma manipulação liberal e globalista”. “Globalismo”, na narrativa do grupo que se autodenomina conservador e revolucionário, é tudo aquilo que impõe a universalidade ao gênero humano. Alexander Dugin chega a afirmar em seu livro A Quarta Teoria Política que:

“[…] Todos os tradicionalistas devem ser contra o Ocidente e contra a globalização, assim como contra as políticas imperialistas dos Estados Unidos. Esta é a única posição lógica e responsável. Então os tradicionalistas e os partisans dos princípios e valores tradicionais devem se opor ao Ocidente e defender o Resto, caso o Resto mostre sinais de conservação da Tradição, quer em parte, quer inteiramente.”

Screenshot – 19/08/2022

A agenda política da NR passa ao largo das lutas antirracistas, do movimento LGBTQIA+ e o movimento internacional dos trabalhadores ao defender a preservação de valores reacionários, e pela sua posição assumidamente identitária. E quando usam de discriminação para atacar a propaganda de Lula, estão na verdade mirando na esquerda democrática.

Atualmente a sigla disputa uma participação no Partido Democrata Trabalhista (PDT), que vem sendo cobrado sobre a conivência com o grupo, que, além do que já foi dito, é negacionista do Holocausto. Perguntado no Roda Viva sobre a presença do grupo no partido, Ciro Gomes, presidenciável pelo PDT, afirma “desconhecer” a existência do grupo. Carlos Lupi, presidente do partido, declarou há tempos atrás que os integrantes do PDT que compõem a Nova Resistência seriam desligados. Grupos antifascistas denunciam que, apesar da declaração de Lupi, os neofascistas seguem adquirindo espaço no PDT. Raphael Machado, líder da Nova Resistência, afirmou em seu Twitter que o grupo se vê desimpedido dentro do partido.

A imagem de destaque deste artigo é de Dima Solomin.

1 COMENTÁRIO

  1. Nossa…! E eu que pensava que era o PT pertencia, na prática, à Quarta Teoria Política (QTP)… Se assim não é, então à qual Teoria Política pertence o PT?

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